Embora seja arriscado fazer conjecturas sobre o que os autores do passado pensariam se estivessem vivos atualmente, o exercício de imaginação é quase sempre tentador. Ousamos, então, fazer a seguinte afirmação: provavelmente, Joris-Karl Huysmans (1848-1907) não aprovaria o título nem o conteúdo deste texto. Quem sabe, talvez se sentisse até mesmo ofendido. A reação não seria de todo injustificada, pois a obra do escritor francês é marcada por protagonistas avessos ao seu tempo e interessados por épocas pretéritas. Para muitas de suas personagens, a contemporaneidade oitocentista não passaria de um período vulgar, fruto da decadência moral, religiosa e social. Como afirma Durtal, figura central do romance Nas profundezas [1891], “só existe felicidade em nossa casa e acima do nosso tempo. Ah, encerrar-se no passado, reviver ao longe, sem sequer ler um jornal, ignorar a existência de teatros, que sonho!”[1]. A despeito da ojeriza do escritor pelo contemporâneo, a sua obra tem atraído, ca
Espaço criativo, ambiente de troca e reflexões sobre livros, literatura e artes.