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Mostrando postagens de julho 5, 2020

De Clarice a Mário, reflexões sobre uma tarde

Dia desses topei com um conto da Clarice Lispector aqui no blog, “Amor”, no qual a protagonista, uma mulher, “bela/recatada/do lar”, segue, de forma robótica até, uma rotina de esposa/mãe/dona de casa e, para fugir à perspectiva humana de certa forma ausente nessa rotina, cria mecanismos de fuga do período do dia quando sua “humanidade” ameaça aflorar: a tarde. É no ocaso do dia que ela sente a consciência (seu “grilo falante”) querer fazê-la pensar a vida que leva e como se anulou em prol da família e da casa. Como ficamos sabendo da história que Clarice tão perfeitamente narra, os episódios subsequentes revelam o caos em que ela é lançada quando, num lapso de tempo, em um fim de tarde, dentro de um ônibus, a consciência aflora com impacto devastador.  Coincidentemente, reli esse conto num fim de tarde, deitada na cama onde relaxo a coluna depois de ter a louça lavada, a cozinha arrumada e um pão assando no forno. Há quase quatro meses em distanciamento social, fui lançada nessa rotin

Jean de la Fontaine : La cigale et la fourmi / Le corbeau et le renard

Jean de la Fontaine nasceu no dia 08 de julho de 1621, na pequena cidade de Château-Thierry. Estudou teologia em Paris, mas sua paixão sempre foi a literatura.  Protegido pelo  superintendente de Finanças  do rei Luís XIV,   Nicolas Fouquet, la Fontaine frequentou os mais importantes salões literários da sua época.  Escreveu o romance "Os Amores de Psique e Cupido" (1669) e tornou-se próximo de grandes nomes da literatura francesa como os escritores  Corneille, Madame de Sévigné, Racine, Voltaire e Molière. Um ano antes, em 1668, publicou suas primeiras fábulas em um volume intitulado "Fábulas Escolhidas". Essa coletânea de 124 histórias, dividida em seis partes foi dedicada ao filho do rei Luís XIV.  Magistralmente escritas, essas fábulas  têm como personagens principais  animais que se personificam.   Além disso, apresentam sempre ao seu final uma “Moral da história”, que é uma interpretação ou breve análise.  Por possuir uma linguagem simples e atraente, as fábul

Curso À Procura de Proust com Ricardo Lisias #Aula 1

À PROCURA DE PROUST – UMA APRESENTAÇÃO DE "EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO" Ao longo do mês de julho, a BiblioMaison tem o prazer de receber o ciclo "À PROCURA DE PROUST – UMA APRESENTAÇÃO DE EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO", ministrado pelo escritor Ricardo Lísias, autor de "Divórcio", "A vista particular" e do recém lançado "Diário da catástrofe brasileira: ano I".  Pensado como um curso introdutório para estudantes e leitores habituais, o objetivo é oferecer subsídios para a leitura da obra de Marcel Proust e analisar algumas aproximações críticas importantes, bem como criar um espaço de questionamento de seu impacto e relevância para os leitores do século XXI. Programação: 7 de julho | 19h: Apresentação Geral e No caminho de Swann ➡️ https://youtu.be/ZfLkB4ui4HM 14 de julho | 19h: À sombra das raparigas em flor e O caminho de Guermantes  ➡️ https://youtu.be/vDL2ixeBTaA 21 de julho | 19h: Sodoma e Gomorra e A prisioneira ➡️ https://youtu.be/Vtu-

Desastrada e outros contos breves - Cassiana Lima Cardoso

Desastrada e outros contos breves Cassiana Lima Cardoso Em Desastrada, forma e conteúdo são dignos de nota. No aspecto formal, a brevidade da narrativa; no plano do conteúdo, a imagem emblemática do rinoceronte. É impossível não lembrar dos “instantes ficcionais” de João Gilberto Noll (1946-2017), em Mínimos, Múltiplos, Comuns (2003), definidos pelo próprio autor como “microcontos poemáticos em que você suspende por agudos momentos o fluxo normal de uma narrativa, a princípio mais extensa e que parece correr pelo livro todo”. A escrita de Cassiana Lima Cardoso é feita de prosa e poesia, hibridismo literário que dialoga com os microcontos poemáticos de Noll e se insere em longa tradição de minimalistas. A escrita breve e poética da escritora é feita de leveza e humor, de imaginação e sonho, de situações do cotidiano não ordinárias, pois acolhem o imprevisível, o inexplicável, e, por que não, o absurdo. A imagem do rinoceronte insinua o que está por vir. Há uma inevitável relação com a p