Dia desses topei com um conto da Clarice Lispector aqui no blog, “Amor”, no qual a protagonista, uma mulher, “bela/recatada/do lar”, segue, de forma robótica até, uma rotina de esposa/mãe/dona de casa e, para fugir à perspectiva humana de certa forma ausente nessa rotina, cria mecanismos de fuga do período do dia quando sua “humanidade” ameaça aflorar: a tarde. É no ocaso do dia que ela sente a consciência (seu “grilo falante”) querer fazê-la pensar a vida que leva e como se anulou em prol da família e da casa. Como ficamos sabendo da história que Clarice tão perfeitamente narra, os episódios subsequentes revelam o caos em que ela é lançada quando, num lapso de tempo, em um fim de tarde, dentro de um ônibus, a consciência aflora com impacto devastador. Coincidentemente, reli esse conto num fim de tarde, deitada na cama onde relaxo a coluna depois de ter a louça lavada, a cozinha arrumada e um pão assando no forno. Há quase quatro meses em distanciamento social, fui lançada nessa rotin
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