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Mostrando postagens de julho 26, 2020

Acerca da Biblioteca de Português da Sorbonne Nouvelle

Para Borges, o paraíso seria uma espécie de biblioteca [1] . Toda vez que penso nessa frase, a Biblioteca de estudos portugueses, brasileiros e da África lusófona, também conhecida como Biblioteca de Português, me vem à mente. Localizada no emblemático Quartier Latin de Paris, no prédio da Sorbonne, abriga um dos maiores acervos sobre os países lusófonos da França [2] . É uma biblioteca com história secular, testemunha do interesse pelos estudos brasileiros na Europa e da intensa troca entre homens de letras e intelectuais dos dois lados do Atlântico. Ela possui nas suas estantes mais de 25000 títulos, divididos em diversas áreas do conhecimento: língua, literatura, civilização, história, geografia, etc. Tive a honra de trabalhar como assistente de biblioteca naquele lugar durante alguns anos do meu doutorado, entre 2015 e 2018. Período que foi marcado por encontros com livros e com pessoas que aguçaram meu espírito e enriqueceram profundamente minha vivência acadêmica. Entre um encon

Stefan Zweig / Autobiografia: o mundo de ontem - memórias de um europeu

Alguns livros são fundamentais para compreendermos nosso presente, sendo muitas vezes grandes lições daquilo que não deveria ser repetido na história da humanidade. A "Autobiografia: o mundo de ontem: memórias de um europeu", do austríaco, judeu, humanista e pacifista Stefan Zweig (1881-1942) é um deles. Die Welt von gestern: Erinnerungen eines Europäers foi publicado originalmente em 1941. Em 2014, foi lançada no Brasil a edição brasileira pela editora Zahar, organizada pelo saudoso Alberto Dines, que nos presenteou com um prefácio e um posfácio. O livro foi brilhantemente traduzido pela minha amiga, a jornalista e tradutora Kristina Michahelles. Nunca atribuí tanta importância a mim mesmo a ponto de ficar tentado a contar a outros as histórias da minha vida. Foi preciso acontecer muita coisa, infinitamente mais do que costuma ocorrer numa única geração em termos de eventos, catástrofes e provações, para que eu encontrasse a coragem para começar um livro cujo protagonista

Curso À Procura de Proust com Ricardo Lisias #Aula 4

"À PROCURA DE PROUST  UMA APRESENTAÇÃO DE "EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO" Ao longo do mês de julho, a BiblioMaison tem o prazer de receber o ciclo "À PROCURA DE PROUST – UMA APRESENTAÇÃO DE EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO", ministrado pelo escritor Ricardo Lísias, autor de "Divórcio", "A vista particular" e do recém lançado "Diário da catástrofe brasileira: ano I".  Pensado como um curso introdutório para estudantes e leitores habituais, o objetivo é oferecer subsídios para a leitura da obra de Marcel Proust e analisar algumas aproximações críticas importantes, bem como criar um espaço de questionamento de seu impacto e relevância para os leitores do século XXI. Programação: #Aula 1: 7 de julho | 19h: Apresentação Geral e No caminho de Swann ➡️  https://youtu.be/ZfLkB4ui4HM # Aula 2: 14 de julho | 19h: À sombra das raparigas em flor e O caminho de Guermantes ➡️  https://youtu.be/vDL2ixeBTaA # Aula 3: 21 de julho | 19h: Sodoma e Gomorra e A p

O Cão Sem Plumas

O Cão Sem Plumas   I. Paisagem do Capibaribe A cidade é passada pelo rio como uma rua é passada por um cachorro; uma fruta por uma espada. O rio ora lembrava a língua mansa de um cão, ora o ventre triste de um cão, ora o outro rio de aquoso pano sujo dos olhos de um cão. Aquele rio era como um cão sem plumas. Nada sabia da chuva azul, da fonte cor-de-rosa, da água do copo de água, da água de cântaro, dos peixes de água, da brisa na água. Sabia dos caranguejos de lodo e ferrugem. Sabia da lama como de uma mucosa. Devia saber dos polvos. Sabia seguramente da mulher febril que habita as ostras. Aquele rio jamais se abre aos peixes, ao brilho, à inquietação de faca que há nos peixes. Jamais se abre em peixes. Abre-se em flores pobres e negras como negros. Abre-se numa flora suja e mais mendiga como são os mendigos negros. Abre-se em mangues de folhas duras e crespos como um negro. Liso como o ventre de uma cadela fecunda, o rio cresce sem nunca explodir. Tem, o rio, um parto fluente e inve