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Mostrando postagens de março 14, 2021

S. e o jogo da ficção

  Até hoje me surpreendo quando vejo meus alunos, uma geração que cresceu na era da informática, levando adiante o fetiche pelo livro de papel. Ainda lembro bem da sombra que pairou sobre o mundo da impressão com o lançamento dos primeiros modelos populares de e-reader . Veiculavam que o papel seria, em breve, coisa do passado. Os anos passaram, a acessibilidade digital se multiplicou exponencialmente, mas as gráficas não deixaram de rodar. Não sei se são as capas coloridas, o cheiro do papel, as memórias sedimentadas em um livro de sebo ou o efeito mágico de ver uma estante organizada, mas algo atrai e prende o ser humano à leitura analógica. E, por isso, eu sempre me senti algo herege nesse culto literário: sempre fui um adepto do PDF. Com a chegada do Kindle, reforcei ainda mais o meu gosto pela praticidade do digital, raramente adquirindo cópias físicas. Ao menos até conhecer o livro que despertou em mim esse fetiche atávico pelo papel: S. , de Doug Dorst e J. J. Abrams. Para e

A noite não adormece nos olhos das mulheres

A noite não adormece nos olhos das mulheres a lua fêmea, semelhante nossa, em vigília atenta vigia a nossa memória. A noite não adormece nos olhos das mulheres, há mais olhos que sono onde lágrimas suspensas virgulam o lapso de nossas molhadas lembranças. A noite não adormece nos olhos das mulheres vaginas abertas retêm e expulsam a vida donde Ainás, Nzingas, Ngambeles e outras meninas luas afastam delas e de nós os nossos cálices de lágrimas. A noite não adormecerá jamais nos olhos das fêmeas pois do nosso sangue-mulher de nosso líquido lembradiço em cada gota que jorra um fio invisível e tônico pacientemente cose a rede de nossa milenar resistência. Conceição Evaristo*, em Cadernos Negros, vol. 19. *Maria da Conceição Evaristo de Brito (Belo Horizonte, Minas Gerais, 1946). Romancista, contista, poeta, professora e doutora pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Criou o conceito escrevivência, ou a escrita que nasce do cotidiano, das lembranças, da experiência de vida da própria a