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Mostrando postagens de agosto 30, 2020

Por cima do mar

Há livros que conquistam aos poucos, nos trazendo para dentro daquele universo ficcional de forma lenta. Outros nos engolem feito furacão, e já não é possível a gente se desvencilhar daquela história. Aconteceu na leitura de Por cima do mar , de Deborah Dornellas. Vencedor do prêmio Casa de las Américas em 2019, Por cima do mar é a estreia de Dornellas na ficção. A cuidadosa edição apresenta ao longo do volume quinze imagens de sua autoria, muitas delas trazendo mulheres. O livro é bonito: dá vontade de revirá-lo várias vezes, voltar nos desenhos, conferir os poemas que os acompanham. O desejo de demorar o olhar não só nas palavras, mas nas ilustrações que surgem de forma orgânica na narrativa, fazendo do ato de leitura um jogo sensorial.  No âmbito da trama chama a atenção também a ambientação em Brasília, espaço que raras vezes encontramos na ficção brasileira recente. A cidade surge como referência constante em função de sua proximidade com a política e o poder, mas poucos foram os

Minha poesia - José Carlos Limeira

MINHA POESIA Minha poesia não se presta ao chá das cinco na academia Prefiro falá-la pelas calçadas, nas paradas de ônibus Molhada do burburinho da cidade, batuques Minha poesia se pica pela traseira do coletivo sem pagar Se esfrega no reggae Vigiando atenta a cabrocha gostosa cheia de truques Minha poesia nunca será isenta de paladar Pode se ligar no HipHop, no toque Haja vista seus versos aptos à fila do SUS, acordados antes da luz A serviço do meu povo, contando seus dramas Minha poesia pode até passar da hora na cama Na mais pura desobediência aos patrões E como podemos supor, não tem métrica nem rimas ricas Podendo ser rica de palavrões Ela é mesmo um acinte, mas acima das futricas Jamais será clássica, fugiu da sala de aula bem cedo Desassombrada e sem medo Levou porradas nos porões Já foi censurada, viajou de carona em longos anos de estrada Minha poesia está a serviço de levantes e revoluções Libertou-se da mordaça Deixou de ficar calada E se um dia não for à luta e de graça Se