Pular para o conteúdo principal

Pense em quantos anos foram necessários para chegarmos a este ano



Pense em quantos anos foram necessários para chegarmos 

a este ano

quantas cidades para chegarmos a esta cidade

e quantas mães, todas mortas, até tua mãe

quantas línguas até que a língua fosse esta

e quantos verões até precisamente este verão

este em que nos encontramos neste sítio

exato

à beira de um mar rigorosamente igual

a única coisa que não muda porque muda sempre

quantas tardes e praias vazias foram necessárias para chegarmos ao vazio

desta praia nesta tarde

quantas palavras até esta palavra, esta


Ana Martins Marques

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

"L'enfer, c'est les autres": um convite à leitura da representação do feminino no romance teatral sartreano em tempos pandêmicos [1]

Considerando que a literatura reflete os valores do tempo histórico em que se insere, entendemos que a expressão do teatro traz para o palco a fruição do discurso literário em sua profunda potência. Sob tal perspectiva, temos manifestações desse viés artístico na contemporaneidade dignos de nota. O beijo no asfalto , por exemplo, peça teatral de Nelson Rodrigues, teve mais uma adaptação recente ao cinema (2017), trazendo os bastidores do filme que encenam a peça, numa discussão entre várias vozes, mesmo as mais caladas, visto que o enredo transcorre às vésperas da ditatura militar do Brasil (1960). A temática de gênero, o controle ideológico por parte dos meios de comunicação e a condição humana como questionamentos do viver e do existir tornaram este trabalho mais que uma mera adaptação. Da mesma forma, os elementos há pouco elencados fazem do teatro de Sartre uma profunda fonte de inspiração para as questões relativas ao existencialismo tanto no final do século XX, quanto para a ref...

Os Colegas - Lygia Bojunga

Para o mês das crianças, "Livro Bacana"* Quando estava na frente da estante, procurando qual livro poderia indicar para este mês das crianças, não tive a menor dúvida de qual deles escolher: Os Colegas , de Lygia Bojunga.  O primeiro livro dessa escritora gaúcha, ganhador de vários prêmios, dentre eles o prêmio Jabuti, é um dos meus livros favoritos da vida. Motivo? Eu só o conheci na fase adulta e ele tocou profundamente a criança que existe em mim.  Essa obra-prima da literatura infantojuvenil brasileira tem como pano de fundo a nossa tradicional e popular festa de Carnaval e o mundo circense. Além disso, as personagens principais são animais, o que dá o tom de fábula para história. Assim, somos apresentados aos cachorrinhos Virinha, Latinha e Flor-de-lis; ao coelho Cara-de-pau e ao urso Voz de Cristal.  Por intermédio da sua descrição física e psicológica, as personagens vão sendo construídas por Bojunga, dentro do universo ficcional. No decorrer da narrativa, o leitor...

O encontro com o Pequeno Príncipe e o carneiro dentro da caixa: algumas reflexões sobre o ensino da literatura infantil

  Se você, como eu, é professor(a) ou apenas se interessa pela literatura voltada à infância, te convido a trocar experiências literárias a partir de minhas percepções leitoras sobre a obra O Pequeno Príncipe , de autoria do francês Antoine de Saint-Exupéry.  Não é minha intenção aqui analisar todos os elementos e personagens do livro, mas apresentar apontamentos de um fragmento da narrativa, a fim de refletir sobre as interlocuções existentes entre os acontecimentos narrados e o ensino da leitura literária.  O Pequeno Príncipe narra a história de uma amizade entre um piloto, frustrado com as pessoas que não compreenderam seus desenhos na infância, e um príncipe que habita em um asteroide no espaço. O título original do livro é Le Petit Prince , e foi publicado pela primeira vez em 1943, nos Estados Unidos.  Em certa viagem, o piloto, que é o narrador a história, é obrigado a fazer um pouso emergencial no deserto do Saara, devido a uma pane no motor. Na primeira noi...